Quando
pensamos em causas e consequências sabemos que todas as nossas decisões e ações
possuem consequências sejam elas boas ou ruins, o difícil é pensar até que
ponto podem chegar.
O
pensamento holístico sobre as situações é muitas vezes atenuante das
consequências, tendo em vista que, se mensurarmos com algum critério os vários
caminhos que nossa ação pode ter, a previsão de impactos é mais realista.
Infelizmente,
o que ocorre com mais frequência é o pensamento encaixotado e com limitação
direcionada pelo capital, que cega o bom senso e promove um olhar mais
imediatista. Vou tentar pontuar algumas situações e discorrer até o ponto que
acredito ter consequências, entretanto, certamente elas não findam onde minha
mente se restringe e nem onde essas poucas linhas têm a possibilidade de
chegar.
Ao
longo dos últimos anos tem-se falado incessantemente sobre o desmatamento como
um grande agente de impacto ambiental negativo, fato que pode ser ressaltado pelas
recorrentes campanhas veiculadas para se atingir o Desmatamento Zero. Assim, podemos
iniciar o exercício de encadeamento por essa ação altamente impactante.
O
desmatamento ocasiona a supressão da vegetação nativa que provoca a perda de
biodiversidade de flora e fauna, algumas vezes endêmicas de determinada região.
Esta perda promove a destruição de habitat, e com isso impacta no
desenvolvimento natural dos indivíduos. Além disto, o desmatamento também causa
o afugentamento e/ou morte da fauna nativa, aumenta o efeito de borda das
florestas interferindo no desenvolvimento e sobrevivência de muitas espécies
que são características de mata fechada.
Expõe,
ainda, o solo de tal maneira que gera processos erosivos, aumentando a
incidência de raios solares sobre locais que antes eram sombreados. E, na
maioria das vezes, esse impacto ainda é potencializado pela queimada do
material desmatado o que provoca, consequentemente, a morte dos microorganismos
do solo (fauna edáfica).
O
desmatamento ainda é mais danoso quando ocorre em áreas de vegetação ripária
(mata ciliar e mata de galeria) consideradas Áreas de Preservação Permanentes. Nessas
áreas, além da erosão, gera o assoreamento do leito dos rios, o que afeta a hidrodinâmica
e as características físicas e químicas da água. Interferindo, igualmente, em
todas as comunidades aquáticas.
Estas
ações precedem a formação de pastagem ou culturas extensivas, as chamadas
monoculturas, que, inevitavelmente, contaminarão os corpos d’água interferindo
na qualidade dos mesmos. Isto porque as culturas extensivas, normalmente,
seguem o princípio da produção sem levar em consideração as consequências dos
impactos negativos ao meio ambiente, fazendo uso de herbicidas, inseticidas, fungicidas
e tantos outros “cidas” próprios das culturas de soja, arroz, milho, trigo,
pastagens entre outras.
Saindo
do ambiente macro das florestas e seguindo para uma situação micro como, por
exemplo, a nossa casa: o que parece um fato insignificante,
o ato de descartar o óleo de fritura na pia, gera consequências que muitas
vezes não imaginamos. Entope os canos da residência em função da solidificação do
óleo, sobrecarrega os sistemas de esgoto, aumentando os custos de saneamento
básico para a desobstrução das galerias receptoras.
Quando esse óleo entra contato com corpos d'água, sobrecarrega os
microorganismos (Ver mais em: Pequenos Detalhes, Grandes Soluções). O que favorece a
explosão populacional dos mesmos que, através do consumo excessivo do oxigênio
diluído na água, promovem a morte da fauna aquática e grandes perdas na cadeia
alimentar, suscitando na redução da biodiversidade desses ambientes. Quando
disposto no solo o óleo pode causar desenvolvimento de microorganismos indesejáveis
e fermentação, o que modifica a qualidade do solo e, desse modo, altera a
sobrevivência dos microorganismos benéficos ao desenvolvimento da vegetação.
Após
a análise de situações macro e micro, podemos analisar um fato ocorrido recentemente,
que já vem sendo considerado o maior desastre ambiental do Brasil: trata-se do
rompimento das barragens de rejeitos de mineração da SAMARCO no estado de Minas
Gerais. As barragens, que foram projetadas para conter rejeitos secos, estavam
há dois anos com o licenciamento ambiental vencido. Além disso, represavam rejeitos
com muita umidade, o que ampliou a possibilidade de processo erosivo pela
infiltração da água no terreno.
Segundo
analises, a lama está contaminada com ferro, alumínio e manganês, o que pode
causar distúrbios neurológicos. O grande volume vazado de material provocou, de
forma imediata, o assoreamento do Rio Doce e o extravasamento do material para suas
margens. Isto afetou as matas ripárias comprometendo a vegetação nativa, toda a
fauna local e áreas de produção agropecuária próximas, tornando-as improdutivas
e impossibilitando a garantia da segurança alimentar de muitas famílias de
agricultores.
Ademais,
a lama provocou a modificação significativa da qualidade da água do Rio Doce pelo
aumento da turbidez da água, alterando a entrada dos raios solares e,
consequentemente, a oxigenação da água. Também são decorrência da lama: a morte
e a fermentação das plantas aquáticas, que com o excesso dos metais se tornam
tóxicos e provocam o envenenamento os indivíduos aquáticos. Este envenenamento
é evidenciado através do aparecimento da grande quantidade de peixes nas
margens do rio. Este fato, por sua vez, tem impacto social no que tange
comunidades ribeirinhas e indígenas, uma vez que, estas têm na pesca sua base
alimentar e a geração de renda das suas famílias.
E a
lista de impactos causados pela lama continua: o cerceamento do direito ao
abastecimento de água para a população de todas as cidades que faziam uso das
águas do Rio Doce para consumo, centenas de famílias desabrigadas ou
desalojadas, perdas de vidas e pessoas ainda desaparecidas. A lama também afetou a vida das pessoas
e a saúde pública, houve grandes perdas nos acervos de arte sacra, imagens e
construções centenárias tombadas pelo patrimônio histórico.
Conforme
avançava em direção à foz do rio, chegando ao litoral capixaba, a lama alterou
a qualidade da água do mar e do sedimento aos manguezais, considerados
berçários de uma grande diversidade de animais marinhos. A presença da lama nos
sedimentos dos manguezais possivelmente levará os indivíduos à morte ou provocará
consequências ainda não mensuradas. A lama que entrou em contato com a água do
mar pode influenciar bancos de corais, algas marinhas base da cadeia alimentar,
como produtores, gerando um efeito em cadeia. Este efeito prejudica virtualmente
todos os organismos aquáticos desde fitoplânctons e zooplânctons até mamíferos
e aves que estão no topo de muitas das cadeias alimentares oceânicas.
A
depender das correntes marinhas, essa lama ainda tem potencial de chegar até as
Ilhas de Trindade e Martin Vaz na costa do Espírito Santo e ao Arquípelago de
Abrolhos na costa da Bahia. Este evento afetaria as faunas insulares, que possuem
características únicas com ocorrência de muitas espécies endêmicas, além de
comprometer suas comunidades pesqueiras e o setor turístico do litoral capixaba.
Frente a
esses três fatos que começam em proporções diferentes, mas que podem ter
consequências tão desastrosas, a proposta de "agir localmente e pensar
globalmente", uma das bandeiras da Agenda 21, está baseada não somente no
efeito que boas práticas ambientais podem gerar e ser replicadas. Mas também
pode ser pensada [e deve] no sentido que, efetivamente, nossas ações locais
podem ter efeitos globais.
Referências:
- Impactos ambientais e socioeconômicos na Bacia do Rio Taquari - Pantanal / Sérgio Galdino, Luiz Marques Vieira, Luiz Alberto Pellegrin, editores técnicos. - Corumbá: Embrapa Pantanal, 2006. 356 p. ; il.
- Informe Especial Mariana/MG 13/11/2015 12h do Ministério da Saúde e Secretaria de Vigilância em Saúde
0 comentários:
Postar um comentário