O lanche da manhã que a nutricionista prescreveu é um suco
verde. Verduras e legumes crus que não consigo comer durante as refeições são
liquidificados em 200 ml de suco verde escuro e às vezes com gosto estranho. Mas
por quê? Porque eu costumo exagerar em algum ingrediente e, hoje foi o
gengibre. O suco ficou picante!
A cultura é nossa forma de agir, baseada em todos aqueles
saberes, crenças e hábitos da comunidade em que vivemos. Diariamente fazemos
escolhas que são inconscientemente baseadas em regras e costumes antigos e que
hoje já nem fazem mais sentido. Contudo, cultura também engloba tudo aquilo que
vamos criando a partir do que aprendemos e sabemos. A cultura nos guia, porém
também mudamos a cultura sistematicamente. Somos criatura e criador ao mesmo
tempo.
Tenho estudado muito sobre isso e cada dia mais percebo o
quanto o processo cultural é automático. Não pensamos, simplesmente agimos e se
alguém perguntar o porquê fazemos algo de uma determinada forma ou outra, a
resposta será: é o correto. Mas o correto de acordo com o que? Quem disse que o
certo é desta forma?
Enquanto tomava de forma obediente e contrariada meu suco
verde de puro gengibre hoje pela manhã, lembrei que já conversei com a
nutricionista várias vezes sobre isso. Meu cérebro me diz que devo colocar
bastante comida no prato, ou ter muita variedade no suco, ou ainda ter um bom
estoque de alimentos em casa. E isso vem da cultura alemã da qual sou
descendente. Estocar comida, pois eles chegaram ao país fugindo da guerra e
precisavam garantir o seu alimento. Ainda percebo que para muitos no sul do
país – alemães, italianos e espanhóis, principalmente – ter uma mesa farta significa que há riqueza e prosperidade,
significa compartilhar carinho, etc. Talvez por isso eu exagere na minha
alimentação.
Olhando mais de perto, na verdade também há exagero com
livros, tecidos para artesanato... alguns exageram nos sapatos, outros nos jogos,
na bebida. O próprio copo que usamos em casa ou que vemos nos bares é cada vez
maior. Quando parei, há dois anos, de tomar o suco verde estava intoxicada por excesso
de um nutriente que envenena. A medida do suco é 200 ml ou um copo americano, também
serve o copo do requeijão. Mas o copo que você usa em casa não é maior que o
copo de requeijão? Quando você vai beber suco, refrigerante, cerveja, o copo de
requeijão não parece pequeno? E há ainda o supra-sumo disso que é a
possibilidade de encher seu copo novamente em alguns restaurantes – o refil
grátis. Quando era criança o guaraná vinha em garrafa de 600 ml – igual à de
cerveja – e dividíamos entre 13 primos! Hoje uma criança bebe 600 ml de
refrigerante e ainda quer mais.
De onde vem essa necessidade de termos tanto? Precisamos
muito, bastante, mais, outro do mesmo, outro grátis, outro de brinde... mais
tempo, mais dinheiro, um outro produto melhor, mais moderno, mais adequado...
Os filósofos antigos já exaltavam a moderação, os orientais
modernos continuam a falar em equilíbrio, meio termo, meus pais me falavam de
parcimônia. Há tanto tempo estamos sendo alertados e ainda não ouvimos? Que
tipo de mensagem precisamos?
Em relação à natureza não é difícil perceber que o excesso
de consumo dos recursos naturais afetou o equilíbrio e gerou a escassez. Também
há excesso de lixo, em decorrência do excesso de consumo de bens materiais. O
excesso de procura gerou a produção de bens em excesso e que precisam ser
vendidos. Para produzir rápido e barato é necessário produtos de pouco valor e
que ao serem substituídos não servem para nada mais.
É preciso mais moradias e moradias maiores para guardar tudo
aquilo que adquirimos, todos os filhos que tivemos e toda a nossa necessidade
de espaço. Nos tornamos muitos, mas será que precisamos de muito? E precisamos
para que? Para nos sentirmos bem? Mas você não sente que a cada aquisição você
continua insatisfeito? Se o refrigerante não te faz sentir bem com 200 ml, por que
1, 2 ou 3 litros fariam? Se com um sapato você não é feliz, será que mais 20 a
deixarão feliz? Porque tanto? O que na nossa cultura gera essa necessidade do
exagero?
Como disse no início somos compelidos pela cultura, mas
também a criamos, simultaneamente. Sendo assim, o que precisamos fazer para
reverter isso?
Pesquise por Obsolência programada!
ResponderExcluirtem muito haver e vai te esclarecer muito!
Gratidão pela colaboração!
ExcluirEstamos muito felizes com o seu projeto abraços beijos
Excluirgilberto carlos steffen
Na verdade eu acredito que essa necessidade e, consequentemente, esse consumo desenfreado vem da falta de capacidade reflexiva das pessoas. Somos educados para sermos célula de consumo nesse sistema capitalista. As escolas não nos ensinam a questionar se isso é bom ou ruim para nós e para os outros, para o planeta. Temos uma visão extremamente individualista, estando bom pra si, os outros que se virem! Muitos vão seguindo aquilo sem se aperceber do todo, de como e por que essa forma de consumo é "normal" ou "certa", afinal, "todo mundo faz isso". Todo mundo faz pq o sistema nos educa para tal, se não, não existiria capitalismo nem sociedade de consumo, este modelo não se sustentaria. E se alguém resolve ter uma vida "alternativa" imediatamente o sistema trata de excluir, ja que não se enquadra no modelo pre estabelecido, taxando a pessoa de louca, de vagabunda, e tantos outros adjetivos pejorativos, até as próprias famílias passam a ver a pessoa como ovelha negra, com vergonha, etc. Mas a mudança é possível. Se nos concentrarmos nas nossas reais necessidades, e para isso o auto conhecimento é fundamental, o olhar para dentro e entender de onde realmente vêm essa necessidade desenfreada, se entendermos o mecanismo do sistema capitalismo como um todo e nosso papel dentro desse macro, seremos capazes de abdicar do "normal" e passaremos a uma forma mais livre e consciente de consumo.
ResponderExcluirÉ Sergio, a consciencia tem seu preço também...
ExcluirGratidão pela cooperação!