Fumaça branca no Porto de Santos. Na
páscoa passada já aconteceram explosões em Santos. Mas desta vez é diferente,
estamos falando de gás incolor e tóxico.
Da janela do escritório no sexto
andar enxergamos a nuvem de fumaça. Dos meus conhecimentos prévios, a fumaça
branca significava apenas vapor de água. A
internet informa em notícias que seria um derivado de cloro, queimando na
margem esquerda do Complexo do Porto, no município do Guarujá.
Orientações prévias: fechar janelas,
ficar atento aos sintomas, procurar um posto médico em caso de sintomas.
Minutos após a notícia de que seria amônia, facilmente atraída pela água
(estava garoando) e que poderia provocar chuva ácida. Nova notícia informava
que o vento estava colaborando e a fumaça estava se dirigindo à Serra do Mar. A
Serra do Mar, um dos últimos resquícios de Mata Atlântica. Mas enfim a
população estava protegida pelo vento.
Quando a noite chega o vento muda de
direção. A fumaça já se espalha pelas cidades de Santos, Guarujá e Cubatão.
Novamente orientações de fechar portas e janelas e cobrir frestas com panos
secos, dizia a Defesa Civil, ou panos úmidos conforme os especialistas na
imprensa. Foi evacuada a área num raio de 3 quarteirões do local da ocorrência.
Do outro lado do canal do porto,
dentro de casa, tudo fechado, ar condicionado ligado e a sensação de estar
presa e sem ter pra onde fugir. Busco na internet uma ficha técnica sobre
amônia e lá diz que seus efeitos afetam a vida marinha e persistem por longos
anos. Lembro então do mangue. O mangue de Santos que é considerado um dos
grandes berçários de vida marinha no mundo, ele e o Porto dividem espaço.
Triste sina.
Sempre nos preocupamos com a
derrubadas de árvores, com a sujeira dos rios, mas o perigo desta vez era
invisível, apesar de anunciado por um cheiro ardido forte. Invisível e
encurralador. Tecnicamente não sei ainda explicar qual foi a reação química ou
a substância. Em verdade, mesmo os técnicos e autoridades estão analisando para
responder. Contudo, a vida é muito frágil e nem sempre resiste ao tempo
necessário para análises.
Santos foi declarada a cidade com
maior índice de qualidade de vida do país. O melhor lugar para se envelhecer.
Ao mesmo tempo em que concentra um símbolo econômico emblemático - o Porto. Que
frágil é este equilíbrio.
Quanto à natureza é difícil prever o
que vai acontecer, se o vento vai colaborar e até quando. Quanto à atividade
econômica aqui desenvolvida, a questão é mais previsível. No mínimo, já
deveríamos a este altura ter planos de contingência eficazes. O maior Porto do
país não providenciou ainda uma atividade educativa de prevenção. A população
não sabe o que fazer no momento do incidente. Já tratei antes no blog sobre o
Direito dos Desastres e a experiência do Japão quanto a isto (releia em É da Sua Conta, Sim!).
É passada a hora de verificar o que
podemos fazer para nos precaver. O último desastre, em abril de 2015, onde os
tanques de gás queimaram por mais de 7 dias, deveria ter ensinado algo, deveria
ser um marco na elaboração de planos, estudos e projetos de educação para as
dificuldades. Precisamos estar preparados para lidar com o pior e minimizar os
danos. Afinal, prevenção faz parte da qualidade de vida. E o Porto de Santos
não pode parar.
Enquanto seguimos atentos à nossa
respiração, sobrevivendo, os laudos ambientais e multas somente virão em alguns
meses. Toda atividade econômica
implica riscos, mas talvez a população esteja demasiado próxima do Porto, ou o
Porto próximo demais de ecossistemas importantes. Certamente que as decisões
que virão serão multidisciplinares, sem isso, mais que o título de número um do
Brasil em qualidade de vida, Santos estará (já está) arriscando a saúde da
população. Aqui passamos do nível do saudável para o habitável.
A que ponto chegamos e até que ponto
aguentaremos?
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