O ciclo da vida é simples, ele
viaja da morte até o renascimento e toda a nossa experiência de vida e
aprendizado é feita entre estas etapas. O povo Lakota, Nativo Norte Americanos,
tem um princípio fundamental que rege suas vidas e experiências na Terra: Viva
para as gerações que ainda não nasceram. “Live for the generations
unborn.”
Imagem: Pinterest |
Hoje estamos sofrendo os impactos
de gerações e ancestrais desconectados da natureza. Apesar de enxergarmos esse
desequilíbrio continuamos agindo de maneira predatória, deixando como herança
poluição, escassez de recursos, crises climáticas, agricultura tóxica e
doenças. Agimos ainda pior que as gerações que tanto criticamos.
A nova era, para qual estamos
transitando, é o renascimento de práticas tradicionais à luz de tempos contemporâneos.
É uma transição para honrar a Terra e todos os seus filhos. O modo de vida dos
povos Nativo Americanos envolve respeitar a Terra e todos os seus habitantes.
Eles escutam os ventos, o reconhecendo como poder do Grande Espírito, que pode
mudar a realidade na Terra. Escutam a sabedoria das árvores das quais chamam standing
people (o povo de pé) e as enxergam como guardiões, extremamente sábias, os
anciãos da Terra. Os Povos Nativos detêm a sabedoria da natureza, a linguagem
secreta da floresta.
O vídeo a seguir, How Wolf Change
Rivers, retrata a conexão entre as espécies e a complexidade deste
relacionamento.
Na cosmologia indígena,
espiritualidade permeia todos os aspectos da vida, não existe separação. Povos
indígenas agradecem a natureza por prover com abundância, cuidar das
necessidades de suas famílias e pelos ensinamentos espirituais.
De acordo com Joseph Epes Brown,
Nativos Americanos insistem que as músicas e cantos usados em suas cerimônias
não foram nunca compostos, mas sim oferecidas pelos espíritos.[1]
Angeles Arrien, antropóloga e autora do livro The Four Fold Way descreve
como curandeiros indígenas ao redor do mundo fazem o uso de música, ritmo e
canto nas suas práticas espirituais. A antropóloga também afirma que a música é
uma das quatro maneiras universais para a prática da cura e conexão, bem como:
contar histórias, dançar e o silêncio.
Imagem:
BellowsFoundation
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Para os povos indígenas Norte
Americanos "medicina" significa mais que uma substância capaz de
restaurar saúde e vitalidade a um corpo doente ou desajustado. Medicina é
energia, um poder vital ou força que é inerente a própria Natureza. A medicina
de uma pessoa é seu próprio poder e expressão de sua própria energia vital.
Segundo o autor Kenneth Meadow, a palavra medicina é usada pelos povos Nativos
Americanos para implicar empoderamento que surge de dentro e permite ao
indivíduo se tornar mais completo. Esse empoderamento o conecta com a Terra e
com a realidade física, realidade sendo o cosmos.[2]
A anciã do povo Lakota, Loretta
Afraid of Bear Cook, afirmou em sua palestra na Schumacher College que apesar
de todas as tentativas de desmantelar a sua cultura, seu povo trabalha para
manter seus ensinamentos e tradições vivos, pois eles acreditam que irá chegar
um momento em que o mundo vai perguntar aos povos indígenas o que fazer. E
quando este dia chegar seu povo deve compartilhar sua sabedoria. Será que este
dia já chegou?
Ao investigar as tradições
celtas, tribos que coletivamente cobriram a Europa Ocidental, os povos
africanos ou nativos das Américas é possível aprender a verdadeira essência do
nosso ser, o pertencimento e profundo relacionamento com a Terra. Os povos
indígenas sabem que são seres sagrados, pois não se enxergam como separados ou
menores que o Criador. Eles são colaboradores da evolução e não competidores.
Nós, mulheres e homens
contemporâneos, rompemos e reprimimos nosso elo com a Terra. Vivemos uma profunda
crise espiritual. Agora é o tempo para entendermos que espiritualidade não
depende de nenhum governo, organização, ideologia, doutrina, religião ou
igreja. Depende só de nós mesmos, da nossa experiência humana. Ao retornar o
sagrado para nossas vidas a consciência sobre nosso propósito na Terra é
ampliado alcançando todo o mundo natural e a comunidade não humana.
Nós precisamos retornar ao jeito
indígena de ser, e isto não significa só viver na floresta. O jeito indígena de
ser é andar como ser sagrado, é sentir a presença da Criação em todos os
aspectos das nossas vidas. Talvez não vivamos o suficiente para ver a Terra
restaurada, mas precisamos começar a retornar ao nosso modo indígena de ser em
nome das gerações que ainda estão por vir.
[1] Brown, Joseph Epes, Teaching
Spirits, Oxford University Press, 2001. p. 35
[2]
Para mais
informações nas medicinas Nativo Americanas recomendo o livro Earth Medicine,
do mesmo autor, que é baseado nos ensinamentos da medicine wheel, roda
de cura, dos indígenas Norte Americanos e sua correlação com os ensinamentos
taoistas do leste, sabedoria xamânica dos caucasianos da Grã Bretanha, Norte
Europeu e Escandinávia.
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