A sustentabilidade tem sido cada
vez mais discutida tendo em vista a conscientização acerca dos problemas
ambientais, decorrentes do sistema de produção e consumo vigentes. Este sistema
caracteriza-se por um ritmo de produção acelerado, que utiliza-se de recursos
naturais renováveis e não-renováveis.
Cardoso (2008) argumenta que o
dilema do designer no contexto atual é conciliar as questões ambientais com o
modelo econômico. Não se pretende, e nem é possível, cessar a produção e
consumo, mas busca-se mudar o ritmo em que estes se dão que, a longo prazo, é
insustentável. Nesse panorama, Vezzoli (2010) argumenta que o design é uma
parte do problema, contudo, pode vir a se tornar um agente promotor da
sustentabilidade ao buscar novas alternativas de projeto.
Dentre essas alternativas, a
abordagem de ecodesign apresenta-se como uma ferramenta valiosa, uma vez que
busca minimizar os impactos ambientais ao longo de todo o ciclo de vida do
produto, desde sua concepção até seu descarte. O termo, de acordo com Manzini e
Vezzoli (2002) caracteriza-se pela composição dos termos ecologia e design, ou
seja, um modelo projetual orientado por requisitos ecológicos.
Design, em sua acepção mais
abrangente, caracteriza-se por ser uma atividade projetual que visa à concepção
de artefatos (MANZINI E VEZZOLI, 2002). Nesse processo de concepção, e em seu
ciclo de vida, os artefatos geram impactos no meio ambiente e, portanto, é de
responsabilidade do designer orientar esse processo por critérios ecológicos. Tendo
em vista o papel do designer nessa mudança de cenário, é importante que, desde
a sua formação, o profissional seja preparado para lidar com as questões ambientais
ao longo do projeto.
Desta forma, propõe-se que,
juntamente com as disciplinas de projeto, que os alunos dos cursos de Design
tenham contato com a abordagem de ecodesign, para que possam articular a
metodologia projetual com os critérios ecológicos, a fim de conceber produtos
mais sustentáveis.
A problemática sustentável teve
suas primeiras manifestações no âmbito de contrariedade à contaminação do meio
ambiente, nos anos 1960 e, a partir dos anos 1990, o debate do tema passou a
ser apresentado de forma mais madura e consistente. Nessa época, o design se
inseriu no desafio devido ao “seu papel de protagonista dentro da trilogia:
ambiente, produção e consumo” (DE MORAES, 2010).
A importância de estudar as
questões da sustentabilidade, atualmente, se deve ao fato de que é clara a
situação de degradação na qual o planeta se encontra. É necessário que as
pessoas em processo de formação de conhecimento e opinião compreendam as
condições atuais, de impactos. Percebe-se, desta forma, a relação do design com
a sustentabilidade, uma vez que o primeiro implica na fabricação de artefatos
que, em seu ciclo de vida, geram impactos no meio ambiente.
Manzini e Vezzoli (2002) afirmam
que é possível conceber produtos mais sustentáveis, utilizando-se tecnologias
limpas, reduzindo-se recursos e energia utilizados na produção, dentre alternativas
que caracterizam-se como novo campo de pesquisa do design. Os profissionais da
área devem ser preparados para entrar no mercado de trabalho, atuando como
agentes promotores da sustentabilidade, aplicando os requisitos ambientais em
seus projetos, e considerando, ainda, os fatores econômicos e sociais.
Dentre as abordagens sustentáveis
possíveis, o ecodesign, ou design do ciclo de vida, apresenta-se como uma
alternativa em bom nível de consolidação, mas em nível discreto de incorporação
na prática profissional, conforme sugere Vezzoli (2010). O ecodesign prevê,
sistêmica e antecipadamente, a redução de impactos ambientais durante todas as
etapas do ciclo de vida do produto, ou seja, sugere redução do consumo de
recursos (materiais e energéticos) desde a concepção até o descarte.
Essa necessidade de novos
caminhos no âmbito projetual, aponta a responsabilidade do designer em conceber
artefatos utilizando materiais e processos de baixo impacto ambiental;
considerando o ciclo de vida inteiro do produto e, atuando de forma orientada
para a sustentabilidade ambiental. O ciclo de vida compreende as etapas de pré-
produção, produção, distribuição, uso e descarte e, em cada uma delas, os
produtos acarretam impactos ambientais negativos (KAZAZIAN, 2005).
A abordagem de ecodesign propõe a
minimização destes, através da redução do consumo de recursos, de energia
utilizada nos processos, na maior durabilidade dos produtos, entre outros
fatores relacionados a cada uma das fases do ciclo de vida. Cardoso (2008)
aponta o profissional de design como o agente capaz de projetar com uso mais
eficiente dos recursos, maximizando o aproveitamento dos materiais consumidos.
Se os resíduos descartados são
uma das ameaças ao meio ambiente, a reciclagem e o reaproveitamento aparecem
como alternativas de design sustentável. O designer deve pensar no tempo de
vida do objeto, desde sua concepção, reduzindo matéria-prima e energia; até o
descarte. Também precisa considerar a durabilidade do produto e sua posterior
reutilização e reciclagem.
O design orientado para a
sustentabilidade é um novo campo de pesquisa na área, no qual se buscam novas
alternativas de produtos e processos, que minimizem os impactos ambientais
decorrentes do sistema de produção e consumo vigente. A abordagem de ecodesign
é uma estratégia importante, pois considera o ciclo de vida dos produtos, o que
compreende uma visão sistêmica e integrada.
Desta forma, o designer deve
atuar no desenvolvimento de projetos considerando essa metodologia. Manzini e
Vezzoli (2002) argumentam que o desenvolvimento de produtos sustentáveis requer
uma nova capacidade de projetar, para que se encontrem soluções promissoras que
despertem desejo do consumidor. “O papel do design industrial pode ser
sintetizado como a atividade que, ligando o tecnicamente possível com o
ecologicamente necessário, faz nascer novas propostas que sejam social e
culturalmente aceitáveis” (MANZINI; VEZZOLI, 2002, p. 20).
Para tanto, é importante que essa
cultura sustentável no desenvolvimento de projetos se dê desde a vida
acadêmica, na formação do profissional. É importante que as disciplinas que
compõem a proposta pedagógica dos cursos de Design enfatizem a problemática
ambiental, bem como orientem para a utilização de diretrizes ecológicas ao
longo do processo projetual, ou seja, é necessário que as metodologias de
projeto sejam articuladas com os requisitos ambientais em todas as etapas do
ciclo de vida.
O ensino de design basicamente
mistura teoria e prática desde as primeiras escolas de ensino superior de
design na Alemanha que serviram de base e inspiração para as que surgiram no
Brasil. Cada instituição possui suas próprias grades curriculares e propostas
pedagógicas dentro das normas decretadas pelo Ministério da Educação (MEC) para
o funcionamento dos cursos no país. É vigente a necessidade de apresentar a questão
da sustentabilidade e desenvolvimento sustentável dentro dos cursos de design,
por ser um assunto de extrema importância na atualidade, bem como pela questão
emergencial na qual se encontra o planeta.
Ademais, é necessário que os
profissionais responsáveis pela colocação de produtos no mercado tenham
conhecimento sobre sustentabilidade, considerando, em seus projetos, materiais
de menor impacto ambiental, utilização de processos industriais menos agressivos
e desenvolvimento de produtos ecologicamente aceitáveis. Para que os projetos
de design tenham as questões ambientais aplicadas, e de forma efetiva, é
preciso que o aluno de graduação em design tenha a possibilidade de colocar
isso em prática ainda dentro da instituição de ensino superior, a fim de
verificar as implicações e modificações que decorrem desta implementação.
No entanto, somando-se à
necessidade do ensino da sustentabilidade no âmbito acadêmico, visando projetos
sustentáveis, existe a necessidade de educar desde cedo os jovens sobre a
importância da mudança de hábitos, de forma que isso comece a fazer parte de
seu comportamento ao longo da vida.
Nota:Esse material faz parte do artigo publicado por Luciana Della Mea e
Luiza Grazziotin Selau na VIII SEPEsq – Semana de Pesquisa, Pós-graduação e
Extensão do Centro Universitário Ritter dos Reis
Referências:
CARDOSO, Rafael. Uma introdução à história do design. 3.
ed. São Paulo: E. Blucher, 2008. 273 p.
DE
MORAES, Dijon. Metaprojeto: o design do
design. São Paulo: Blucher, 2010.
KAZAZIAN,
Thierry. Haverá a idade das coisas
leves: design e desenvolvimento sustentável. São Paulo: SENAC São Paulo,
2005. 194 p
MANZINI,
Ezio. Design para a inovação social e
sustentabilidade: comunidades criativas, organizações colaborativas e novas
redes projetuais. Rio de Janeiro: E-papers, 2008. 103 p
MANZINI,
Ezio; VEZZOLI, Carlo. O desenvolvimento
de produtos sustentáveis: os requisitos ambientais dos produtos industriais.
São Paulo: EDUSP, 2002. 366 p.
PAPANEK, Victor. Design
for the Real World: Human Ecology and Social Change. United
Kingdom: Thames& Hudson, 2006. 394 p.
VEZZOLI,
Carlo. Design de sistemas para a
sustentabilidade: teoria, métodos e ferramentas para o design sustentável de
"sistemas de satisfação". Salvador: EDUFBA, 2010. 343 p
0 comentários:
Postar um comentário