sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Desejos e Bons Votos de Final de Ano


Esta é a época mais esperada do ano. E também a mais vertiginosa. Acúmulo de tarefas, vontade de colocar tudo em dia, de estar com a família. É o final de uma etapa, início de outra, momento de reavaliação e de traçar metas.

Mas o que se vê nas ruas é uma correria só. Comprar presentes, comprar os ingredientes da ceia (cada ceia tem cardápio e bebidas definidas culturalmente ou comercialmente), deixar a mesa do trabalho em dia, fazer “aquela” faxina de final de ano.

E neste clima de pressa, nessa correria, acabamos comprando em excesso. Isto porque a urgência nos leva a acreditar que temos pouco tempo para realizar os nossos desejos e os daquelas pessoas que amamos. O marido sempre quis um eletrônico assim, minha filha queria tanto aquela bicicleta...


O período que antecede as festas é de desejos. Todos informam o que gostariam de ganhar, o que sonham, o que pediram ao papai noel. São coisas que, no dia-a-dia, via de regra sequer nos permitimos sonhar em adquirir por considerarmos demasiado, desnecessário, supérfluo. Existem outras prioridades e necessidades durante o ano todo, mas nesta época...


Veja-se o recorde anual de pessoas que visita a famosa Rua 25 de março ou o Brás em São Paulo. Um emaranhado sem fim de pessoas tentando localizar o desejo de modo acessível. Isso reforça mais uma vez a constatação de que, se fossemos levar ao pé da letra os desejos não teríamos condições de realiza-los.

Anualmente fazemos esforços (e nos sentimos realizados) se conseguimos alcançar o número ideal de desejos realizados com o valor monetário compatível com nossas possibilidades.

O engraçado nesta situação toda é que, junto ao pacotinho que simboliza nossa vitória contra a nossa ausência de possibilidade de comprar (realizar) tudo aquilo, colocamos um bilhetinho ou um cartão e desejamos tudo aquilo que não se compra e não se encontra nem correndo a 25 de março inteira: Que o ano novo traga sucesso! Que seja feliz! Que seja repleto de paz e amor! Prosperidade, amizade, doçura, carinho, generosidade.... Esses são os sinceros votos de Janaína e família.


Percebe? O que todos nós estamos querendo, buscando e desejando, não faz parte da decoração, não está sobre a mesa e nem cabe em um pacotinho com laço de fita.

Ainda que possamos ver em um produto uma centelha de felicidade, ou em um sabor um conforto para o coração, o que efetivamente desejamos para nós e para os outros não está na vitrine e nem tem preço.


Diga-se de passagem, além do valor monetário que nos acompanhará por alguns meses na fatura do cartão de crédito, também nos acompanhará a angustia de ter que lidar com as escolhas feitas na pressa desses dias. E todo o excesso de consumo repercute em mais lixo, mais trabalho em condições precárias (porque se o preço é a metade, algum custo foi cortado).


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terça-feira, 19 de dezembro de 2017

2018 – O ano da Água no Brasil

Imagem: Obvious Magazine

Possivelmente você nunca ouviu falar, mas, a cada três anos, há uma edição de um mega encontro internacional que reúne representantes de diferentes países, representantes do poder público, empresas, acadêmicos e ONGs para debater um grande tema principal: água. O Fórum Mundial da Água teve sua última edição na Coreia, em 2015; e, em 2018, acontecerá aqui, em Brasília, em meados de março.

Imagem: World Water Forun 8

Mas por que, então, será o “ano da água” no Brasil? Qual a importância desse evento?

O Fórum acaba sendo o ápice da troca de conhecimento e de advocacy político que gira em torno dos temas relacionados a recursos hídricos. É o momento em que os “fazedores de política” se reúnem para discutir impactos de ações governamentais na gestão de água. É o momento em que as empresas trocam informações e casos de negócio sobre o manejo de tecnologias relacionadas a recursos hídricos. É quando os acadêmicos debatem sobre suas pesquisas acerca do tema. E onde os ambientalistas pressionam para que todos os demais subam suas barras.

O 8º Fórum Mundial da Água foi um dos pontos da Reunião de Dirigentes do Ministério do Meio Ambiente (MMA), realizada nessa na Agência Nacional de Águas (ANA), em Brasília. Imagem: World Water Forun 8

Ter um evento deste porte no Brasil – o primeiro, em 8 edições, que acontecerá no hemisfério sul, diga-se de passagem – é um privilégio não só simbolicamente, do ponto de vista internacional, mas para reaquecer o tema internamente. Lembremos que faz pouco mais de dois anos da maior tragédia ambiental já ocorrida em solo brasileiro, intimamente ligada à gestão econômica de um setor extremamente impactante junto a uma bacia hidrográfica vital para a região. Lembremos que os níveis de distribuição de água limpa e, principalmente, de coleta e tratamento de esgoto no Brasil são indesculpavelmente baixos e que perdemos uma parcela inaceitável de água na sua distribuição. Lembremos que, apesar do país concentrar cerca de 1/5 do total de água doce disponível no mundo, diversas regiões têm estresse hídrico elevado, levando a casos extremos como o que acontece, atualmente, no semiárido nordestino ou que houve há dois anos em São Paulo.

Dois anos da tragédia derramada no Rio Doce. Reprodução: G1. Imagem: Felipe Werneck/Ascom/Ibama

Baixos níveis de armazenamento de água em um dos reservatórios do Sistema Cantareira responsável pelo abastecimento de água em São Paulo. Reprodução: UOL Notícias. ImagemRahel Patrasso/Xinhua

A discussão sobre recursos hídricos é, portanto, sempre um imperativo. E essa possibilidade poderá ser reacendida com o Fórum em março do ano que vem. O tema central da edição é “compartilhando água”. Abrangente o suficiente para abraçar todos os atores, mas, ao mesmo tempo, direto ao ponto: sem a cooperação das partes envolvidas, não será possível que todos desfrutemos desse bem fundamental.

Imagem: SOS Mata Atlântica

Para conhecer mais sobre o Fórum, acesse o site o oficial do evento clicando aqui, ou acompanhe através da página no Facebook clicando aqui.


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sábado, 16 de dezembro de 2017

A Moda Sustentável começa com a gente: Confira 9 dicas para ter um guarda roupa sustentável!

Imagem: Revista Manequim

Qualquer mudança que queiramos no mundo começa efetivamente por nós. E quando o assunto é moda sustentável, ela começa pelo nosso guarda roupa.

Imagem: Box Fashion

Mas como podemos colaborar para que o setor de moda seja mais sustentável, socialmente justo e menos impactante no meio ambiente? A primeira etapa, e diria a mais importante, é entender nosso grau de importância para a indústria da moda. Sim, nossa atitude de consumir ou não roupas, acessórios ou calçados de determinada marca, impacta sim as vendas e faturamento dessa empresa. Imagine o seguinte cenário: Você é apaixonado por roupas da marca X, tanto que sempre comenta com seus amigos e familiares e acaba até divulgando fotos usando esta marca em suas redes sociais. Agora considere a seguinte informação: foram descobertas confecções em que seus trabalhadores exerciam suas atividades em regime análogo à escravidão (trabalhavam e moravam no mesmo local; as condições de higiene eram degradantes; os locais para dormir eram pequenos, úmidos e sem ventilação; a jornada era exaustiva, a ponto de serem contabilizadas as idas ao banheiro). Imagine o quanto essas pessoas não sofrem para que a marca X continue vendendo suas peças a preços baixos. Você seria capaz de continuar consumindo as roupas da marca X?

Imagem: Vasco Gargalo

Agora imagine se cada vez mais pessoas se recusem consumir a marca X devido às condições de trabalho impelidas aos seus funcionários (vamos lembrar que terceirização não é justificativa para que situações assim ocorram), o faturamento dessa empresa cairá e uma alteração na cadeia produtiva e de valor precisará ser realizada. É claro que esse é um exemplo muito simplificado, mas é apenas para que vejamos o poder e a responsabilidade que possuímos enquanto consumidores.

Imagem: Inhabitat

Então como podemos efetivamente colaborar para uma moda mais sustentável? Precisamos repensar como nos relacionamos com as nossas roupas e acessórios, evitando o desperdício, por exemplo. Separamos algumas dicas importantes, do Caio Braz e Aline Welinsky do Plata o Plomo, de como ter um guarda roupa mais sustentável.

1. Apoie marcas éticas
Vamos voltar ao nosso exemplo: Você já parou para se perguntar de onde vem a roupa produzida pela sua marca favorita? Quem são seus fornecedores, de que forma a cadeia de produção se constrói; será que os preços pagos pela mão de obra e pelos materiais são justos? De que forma essa marca lida com os materiais que utiliza? Se materiais sustentáveis? Como funciona o descarte? Há um processo pós compra, como a logística reversa?

Parece muita coisa, mas se a marca tiver esse foco ela vai fazer questão de deixar isso claro para o consumidor. Uma sugestão é procurar as marcas pequenas, pois além de priorizarem as relações com fornecedores e a mão de obra local, elas não usam qualquer material.

Desenvolvido pela ONG Repórter Brasil o app  Moda Livre, é um aplicativo gratuito que avalia o envolvimento das marcas de roupa no trabalho escravo.


Imagem: Moda Verde

O aplicativo, disponível para iOS e Android, está no ar desde 2013 e conta com mais de 70 marcas. Segundo seus criadores, o intuito do Moda Livre é fornecer informações para que o consumidor faça a escolha de forma consciente.
  
3. Atenção aos seus hábitos
Há muita boa intenção na compra de uma peça sustentável, mas todo o conceito é ineficaz se a roupa adquirida ficar jogada no fundo do guarda roupa porque não combina com o restante das suas roupas ou você não acha ocasião para usá-la.

Imagem: The Green Hub

Por isso, se você deseja mesmo construir um guarda-roupa sustentável, é preciso analisar seu estilo de vida, desapegar de maus hábitos e planejar suas compras. O que você precisa saber para ter um guarda roupa mais sustentável é o que é realmente necessário pra você.

4. Compre roupas duráveis e de qualidade
Ter um guarda roupa sustentável nem sempre nem sempre significa ter poucas roupas. Você pode, por exemplo, ter cinco calças diferentes no seu armário, mas, se elas durarem 10 anos, quantas você terá deixado de descartar durante todo esse período?

Quanto mais tempo a peça durar, menos você terá que comprar algo novo. É bom para o meio ambiente, é bom para seu orçamento.  Você pode substituir a compra de três camisas brancas baratinhas (mas que vão se acabando com o uso) pela compra de uma ótima camisa, de muita qualidade que (com o cuidado apropriado) vai durar sua vida inteira.  É pensando assim e com esse tipo de estratégia que vamos transformando o nosso jeito de consumir.

Imagem: Uma Jornada Interior

5. Compre menos e escolha melhor
Antes de comprar, tenha em mente o que realmente precisa, planeje suas compras. Assim você evita as compras por impulso.  Se questione se você realmente gostou daquela peça 100%, se realmente irá usá-la. Se não está comprando por uma moda passageira. Questionamentos que podem fazer muita diferença no tipo de roupa que você investe e que podem transformar o seu jeito de consumir moda. Foque em comprar menos, fugindo da banalização e buscando significado no que se compra.

6. Cuide bem das roupas que você já tem
Muitas vezes somos descuidados com as coisas que temos e não dedicamos atenção necessária às roupas que compramos. Para que uma peça dure, é preciso que estejamos atentos à maneira que cuidamos de nossas peças.

Ler a etiqueta antes de lavar e passar, lembrar de usar guardanapo ao comer uma massa, atenção ao vinho e a roupa branca, lembrar de tirar manchas antes que fique impossível, guardar as peças mais especiais bem protegidas são algumas dicas para manter a qualidade das roupas e é um jeito bem especial de economizar.

7. Compre roupas vintage ou de segunda mão
A quantidade de roupa produzida anualmente é exorbitante e muita roupa antiga é descartada, ainda que em perfeito estado. Vale pesquisar e conhecer brechós e lojas online de roupas usadas. Acredite: tem muita coisa legal, ótima, num estado muito bom e por preços camaradas nesses locais.

8. Armário Cápsula
O conceito de armário cápsula consiste em ter um número limitado de peças de roupas que sobreviverão a qualquer tendência de moda ou passagem do tempo.

Imagem: Revista Galileu

Geralmente, um armário cápsula tem 30, 50, 60 peças, considerando inclusive sapatos e acessórios. É claro, o número varia pela sua necessidade, mas a proposta é ser o mínimo possível, o essencial.

Imagem: Veja Rio

9. Doe roupas antigas e sem uso
E o que fazer com as roupas antigas e sem uso? Quando as roupas estão em bom estado, existe sempre a alternativa de doar essas peças para alguma ONG ou instituição de caridade. Você também pode criar uma campanha de arrecadação de roupas em seu prédio, empresa, faculdade ou escola e ajudar o Exército de Salvação que doará essas roupas a pessoas que precisam.
  

Com informações de: Caio Braz, Green Me, Plata o Plomo


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sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Conheça Iniciativas e Empresas que estão mostrando que é possível aliar Moda e Sustentabilidade

Imagem: Instituto Rio Moda

Sabemos que o caminho para a moda sustentável passa obrigatoriamente por consumidores mais conscientes e exigentes e também pela disposição das empresas buscarem inovações para suas cadeias produtiva e de valores.

Embora o cenário atual, nos revele consumismo; durabilidade curta, devido à obsolescência programada; e descarte cada vez maior e mais rápido de roupas e calçados, existe um movimento crescente que vai na contramão de tudo isso, o Slow Fashion.

Esse movimento surge para dar maior consciência ecológica aos consumidores, mostrando que as roupas e produtos podem ser projetados com matérias primas ambientalmente amigáveis, isto é, materiais que não gerem resíduos tóxicos, e que tenham vida útil prolongada. Um número cada vez maior de empresas tem demonstrado preocupação em relação aos impactos socioambientais que seus processos produtivos têm gerado, e mais que isso, a busca por soluções que envolvam a melhoria do cenário ambiental e a atenção às questões sociais tem sido cada vez mais percebido nesse setor tão poluente e degradante.


Imagem: Jardim do Mundo

Empresas antigas se reinventam, novas empresas e iniciativas já surgem com esse ideal em suas missões, a cooperação entre os fornecedores, empresas, organizações de normas ambientais e consumidores em prol de um ambiente mais preservado e socialmente mais justo. O conceito de sustentabilidade está sempre presente através da utilização de itens reciclados, tintas à base de água, tecidos de fibras naturais, entre outros materiais que contribuem para a preservação do meio ambiente.

Observamos também a importância do design inteligente de produtos que passa a ser pensado de forma circular, a fim de que este produto possa sempre se converter em novos materiais para a produção de novos produtos, gerando, desta forma, uma quantidade cada vez mais reduzida de resíduos, é a economia circular e seu conceito “do berço ao berço” (Cradle to Cradle, em inglês).

A seguir você poderá conferir algumas empresas que estão caminhando na direção da moda sustentável e iniciativas que estão divulgando a importância do tema.

Patagônia
Não comprar nada além do que falta e usar a peça de roupa por vários anos é a principal ideia propagada pela Patagônia, uma das principais marcas de roupa americana.
  
Imagem: Archilovers

Suas peças são produzidas a partir da reciclagem, a marca tem seu design voltado para a qualidade e durabilidade, assim suas roupas são reconhecidas por servirem para uma vida toda. Para isso a Patagônia trabalha com uma eficiente equipe de consertos (realizados em até 10 dias úteis), assim o consumidor tem acesso à manutenção de suas peças quando necessário. Para a empresa, peças em bom estado devem permanecer em circulação, por isso a empresa além de realizar reparos também compra dos consumidores as roupas que os mesmos gostariam de vender porque não usam mais, assim como também recebem doações de peças de seus consumidores que queiram destinar suas roupas sem uso a instituições de caridade. A Patagonia também reconhece a importância da economia circular, recebendo de seus consumidores peças para a reciclagem, no processo são extraídas as fibras do pano e novas peças são confeccionadas.


Imagem: Muda Tudo

Buscando incentivar o surgimento de novas empresas com a mesma visão, a Patagonia criou um fundo para investir em startups.  E pensando na cadeia de valor, a empresa se associou ao Walmart a fim de rastrear práticas socioambientais de mais de 300000 varejistas e fabricantes do setor, o que corresponde a 40% do mercado têxtil mundial. Com essas ações, a empresa dissemina a política de redução, reuso, reparo e reciclagem que associação moda à sustentabilidade.

Brasil Eco Fashion Week – BEFW   
A semana de moda BEFW surgiu como resposta à crescente demanda por um mercado de moda engajado a valores humanos, consciência de consumo e preservação ambiental. 
  
Imagem: Chesller

O primeiro grande evento dedicado à moda brasileira com foco na sustentabilidade foi realizado, em novembro deste ano, em São Paulo. Inspirado na Eco Fashion Week que acontece no Canadá, a semana de moda sustentável brasileira foi planejada para apresentar soluções à moda tradicional e também mostrar que é possível aliar moda a consumo consciente. Diferente das semanas de moda tradicionais, a proposta da BEFW é conectar marcas e empresas que produzem moda sustentável aqueles que desejam consumir de forma mais consciente, além de apresentar ao público que ainda não conhece.


Imagem: IDsetters

O evento contou com showroom, um espaço inovador de vendas para varejo e atacado, onde mais de 30 marcas expuseram para o público suas produções sustentáveis; oficinas; palestras; workshops; rodas de conversa; e uma praça de alimentação com slow food.

Another Land
Fundada por Caroline Noreika e Cibele Nogueira, a Another Land é uma marca que trabalha com tecidos e estamparia ecológicos.

Imagem: Another Land Project

Esse projeto criativo, que incentiva o consumo e a produção consciente, nasceu em 2015 estampando produtos ecofriendly e destacando calçados feitos com tecidos provenientes do lixo de confecções têxteis. A marca desenvolve acessórios, alpargatas e artigos de decoração, elaborados com tecidos feitos de garrafa PET, algodão reciclado ou fibra natural e a estamparia é 100% ecológica, os corantes e pigmentos são tintas à base d’água, sem químicos ou solventes. As estampas são digitais e manuais  inspiradas em narrativas que transitam entre a natureza  e o urbano, a ordem e o caos. 

C&A 
A gigante varejista C&A preocupada com os impactos do cultivo tradicional de algodão, vem optando por utilizar em seus artigos algodão certificado pela Better Cotton Initiative – BCI (Iniciativa por um Algodão Melhor), em 2016 15% dos artigos desse material comercializados no país já eram certificados, a expectativa da empresa é atingir 100% até 2020.

Imagem: Ideia Circular

O objetivo da BCI é garantir que o algodão seja produzido de forma ética e responsável, por isso suas ações são voltadas para o combate ao trabalho escravo e infantil; para a melhoria das condições dos trabalhadores do campo; e para a melhoria de práticas agrícolas, como a redução do consumo de água e de pesticidas.

Com o intuito de alertar e difundir a necessidade do cultivo mais sustentável do algodão, a C&A e a National Geographic lançaram o documentário “For the Love of Fashion” (Por Amor à Moda), apresentado por Alexandra Cousteau, mundialmente conhecida por seu trabalho ligado a questões de sustentabilidade e água.



Documentário For the Love of Fashion que mostra os resultados do uso de métodos
de produção mais sustentáveis, como o BCI e o cultivo orgânico.

Outra preocupação da marca é em relação ao jeans e a quantidade excessiva de água gasta durante seu processo produtivo, por isso a C&A está investindo em inovações de sua cadeia produtiva e como resultado há 92% de economia de água e 30% de redução de energia no processo de tecelagem; e 30% de economia de água e 15% menos energia no processo de lavanderia. Isso graças a certificação de seus fornecedores, como as empresas fornecedoras de fiação, as confecções e as lavanderias.
  



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quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

O que a etiqueta não mostra! Os impactos socioambientais da moda tradicional

O desenvolvimento e, principalmente, a expansão da moda sustentável passa obrigatoriamente pela necessidade do consumo ser feito de maneira consciente. Para que as empresas se tornem cada vez mais transparentes na divulgação de informações ao público, é preciso que o mesmo saiba exatamente o que exigir dessas marcas.

Imagem: Autossustentável

Justamente por isto, hoje falaremos sobre como podemos nos tornar consumidores mais conscientes no segmento da moda. Uma boa forma de iniciar a jornada em busca do consumo consciente é tomar conhecimento sobre como os produtos que mais utilizamos em nosso dia a dia, tais como: o algodão, o jeans, a viscose e o poliéster, chegam até nós.

Vivemos em uma maravilhosa época onde a informação circula em velocidade cada vez maior e onde há conexão quase absoluta entre todas as partes do mundo. Mas será que em meio a esse turbilhão de dados que nos bombardeiam a cada minuto conseguimos filtrar aquelas que de fato nos seriam úteis? Aquelas que nos ajudariam a tomar melhores decisões sobre consumo, bem estar e satisfação? Será que ao adquirir uma peça de roupa, nos preocupamos com outras variáveis além do preço? Será que nos perguntamos qual foi o caminho que ela fez até chegar ao nosso guarda roupa? Será que sabemos que determinados tecidos são extremamente poluentes e degradantes tanto ambientalmente quanto socialmente? Aquela peça de roupa super baratinha daquele site chinês ou aquelas das liquidações das grandes lojas de departamento que aparentam ser ótimas escolhas para aquisição, na maioria das vezes escondem por trás da etiqueta uma história que a maior parte dos consumidores desconhece.

Camisas de algodão. Imagem: GazabPost

Algodão é a fibra natural que representa 90% de todas as fibras naturais usadas na indústria da moda e que está presente em mais da metade das peças de vestuário confeccionadas no Brasil. A primeira vista, a palavra natural pode representar algo positivo, afinal não é um tecido que vem diretamente da natureza. Que mal poderia haver? Bem, o cultivo de algodão necessita de grandes quantidades de água e de irrigação extensiva se cultivado fora de seu ambiente natural. Para se criar 1 quilo de algodão, são necessários cerca de 30.000 litros de água! E 1 camisa de algodão usa aproximadamente 2.700 litros de água! Isso sem contar a utilização de defensivos agrícolas, já que o cultivo de algodão responde por 24% de todo o consumo de inseticidas e 11% dos pesticidas utilizados na agricultura mundial. O algodão é também aquele que consome maior quantidade de energia em seu processo produtivo, aqui incluem-se o combustível das máquinas agrícolas que realizam a colheita, a energia das máquinas de fiação e dos processos de lavagem, secagem e ferro de passar.

Imagem: Look Forward

Desta forma, você pode imaginar os tipos de impactos resultantes do cultivo desta fibra natural. São impactos ambientais e sociais preocupantes como a degradação do solo, lençóis freáticos e rios por conta do uso de defensivos; problemas de saúde causados pelo manuseio e contato com inseticidas e pesticidas, e também pela ingestão de água que esteja contaminada por essas substâncias; o desenvolvimento da bissinose, uma disfunção pulmonar causada pela aspiração crônica de fibrilas de algodão. Além destes, também é necessário ressaltar a geração dos resíduos têxteis, que no Brasil representam 175.000 toneladas/ano, onde somente 36.000 toneladas são reaproveitadas, devido ao curto comprimento das mesmas, para fazer barbantes, novas peças de roupas e fios, e também para a fabricação de estopas, colchões e mobiliários.

Imagem: Textile Excellence

O jeans é prático e versátil, uma peça coringa, tanto que é bem difícil que alguém não possua uma calça jeans em seu guarda roupa. Mas você sabe como ocorre o processo de fabricação dessa maravilhosa invenção? Sabia que o jeans é uma das peças mais poluentes do vestuário? A começar pela produção do denim, um tecido de algodão base do jeans, que consome durante o processo grandes quantidades de água, energia e corantes a base de produtos químicos altamente prejudiciais à saúde e ao meio ambiente. Passando pela logística de distribuição e entrega, que majoritariamente atravessa o globo, já que as grandes fábricas de jeans se encontram na Ásia, notadamente na China e Índia. Nessa conta também entram as embalagens que acompanham os produtos e a destinação muitas vezes incorreta das mesmas. E não podemos esquecer da água e produtos químicos utilizados por nós para a lavagem e higienização dos nossos jeans. Está faltando ainda a última ponta do processo, o descarte das peças que não utilizamos mais. Qual o destino que você dá ao jeans após o uso? Vamos nos atentar que uma calça jeans leva cerca de um ano para se decompor na natureza.

Imagem: Estácio

Podemos acompanhar o quanto a produção do jeans provoca impactos socioambientais no documentário canadense RiverBlue, que mostra como a produção de bilhões de peças jeans anualmente polui rios, lagos, mares e reservatórios devido ao tingimento de tecidos. Extremamente tóxica, comprometendo a saúde dos trabalhadores dessas fábricas e também das comunidades em seu entorno, o processo de produção do denim exige várias lavagens químicas intensivas, sendo esses resíduos despejados, na maioria das vezes em rios. No documentário é mostrado que são identificados cinco metais pesados (cádmio, cromo, mercúrio, chumbo e cobre) no rio que corta Xintang, a cidade chinesa conhecida como a capital mundial de fabricação de jeans (1 em cada 3 pares de jeans vendidos no mundo é produzido nesta cidade). Esses metais pesados são neurotóxicos, cancerígenos, perturbando o sistema endócrino e causando câncer em diferentes órgãos. Ao preço da saúde da população e da destruição de suas fontes de água, a China se torna a “Fábrica do Mundo”.

Trailer do documentário RiverBlue que mostra toda poluição dos rios causada pelo processo de tingimento de tecidos, lavanderias de jeans e curtumes de couros.

A viscose, fibra artificial feita a partir de celulose, mais especificamente cavacos de madeira e de árvores de rápido crescimento que possuem pouca resina, é usada em larga escala, servindo inclusive como forro para peças de outros materiais, perdendo em usabilidade apenas para o poliéster e algodão. Apesar desta fibra ser proveniente de fonte renováveis, seu amplo emprego ocasiona vários impactos, que muitas vezes por ocorrerem longe de nós, acabamos não tendo conhecimento.

Imagem: Silent Inc
Imagem: Flash la Revista

Os problemas se iniciam com o processo extrativo da matéria prima, de acordo com informações do site Modefica, cerca de 30% da viscose produzida é proveniente de árvores de florestas nativas e ameaçadas de extinção, como a Amazônia. Na lista dos países que mais desmatam estão Indonésia, Brasil e Canadá que em 2010 foram responsáveis por cerca de 2/3 de toda a importação de polpa de viscose pela China. Desse montante, 75% foram transformados em tecidos para indústria da moda. Durante o processo produtivo no qual a polpa da madeira é transformada em fibra de celulose e em seguida em fios de viscose são utilizados produtos químicos como soda cáustica e ácido sulfúrico, sendo emitidos sulfeto de carbono e gás sulfídrico, dois gases que apresentam efeitos tóxicos significativos à saúde dos trabalhadores desse segmento. Além disso, a produção de viscose demanda uso excessivo de energia e de água – para cada quilo de viscose produzida são utilizados 640 litros de água! – e grande parte do material é descartada durante o processo (cerca de 70%).

Desmatamento produzido pela indústria da moda tradicional. Imagem: One Green Planet

E com as exigências do modelo Fast Fashion, maior produção com menores custos, a maior parte dos tecidos de viscose hoje são tecidos de baixa qualidade e durabilidade, fato que potencializa a dimensão do descarte. Essa equação ainda possui um último fator agravante, apenas 0,1% dos tecidos de viscose são reciclados. Como podemos observar, são vários os impactos socioambientais que a produção de viscose ocasiona, desde o desmatamento que gera perda de biodiversidade e violações de direitos humanos relativos aos trabalhadores e as comunidades nativas dessas florestas, passando pelas implicações à saúde dos trabalhadores dessas indústrias, até a questão do descarte de volume cada vez maior de tecido, agravando a situação dos aterros sanitários.

Montanha de lixo formada por roupas. Imagem: GreenMe

O que conhecemos como poliéster é o polietileno tereftalato, mais conhecido como PET. Em sua maioria os poliésteres são termoplásticos, possuindo várias aplicações em nosso cotidiano, como garrafas de plástico, material isolante, filmes, filtros, tintas em pó, telas de LED e, principalmente, tecidos e malhas utilizados em roupas, lençóis, cortinas, móveis e estofados. Isto porque o tecido de poliéster possui maior durabilidade, retenção de cor e resistência a rugosidades, quando comparado com tecidos naturais como o algodão. Por essa razão é bem comum a mistura do poliéster com tecidos naturais a fim de combinar as características de ambos os tecidos.

Imagem: Industria Outpost

Produzido a partir de petróleo ou de gás natural, matérias primas não renováveis e poluentes, a produção de poliéster causa diversos danos ambientais, uma vez que também são emitidos compostos orgânicos voláteis (VOC) e efluentes contendo antimônio. Ademais, durante o processo produtivo demanda grandes quantidades de água para resfriamento, juntamente com uma grande quantidade de químicos nocivos, que podem se tornar fontes de contaminação. Para que 1 quilo de poliéster seja produzido são gastos 20 litros de água. O processo de produção utiliza ainda grandes quantidades de energia, correspondendo à etapa de extração das matérias primas e transformação em produto final, o dobro de energia que a produção de algodão convencional.

Visão ampliada de microplásticos na ponta de um dedo. Imagem: Igui Ecologia

Além destes, existem outros impactos socioambientais resultantes da produção do poliéster em decorrência do mesmo não ser biodegradável e levar cerca de 400 anos para se decompor. Sendo o pior deles a contaminação por microplásticos (pequenas partículas plásticas com menos de um milímetro de diâmetro) que acabam se desgarrando das fibras do tecido e vão parar nos rios, mares e oceanos, prejudicando ecossistemas. Para se ter ideia, em uma simples lavagem, uma peça de roupa de poliéster pode soltar até 1900 microfibras! Essa água utilizada na lavagem segue para corpos d'água e oceanos, onde pequenos animais se alimentam desses microplásticos propagando a intoxicação ao longo da cadeia alimentar até chegar aos seres humanos. Sim, já estamos consumindo peixes contaminados com microplásticos, pois grande parte das superfícies dos oceanos já está contaminada por com esse material. Estamos vivenciando contaminação do meio ambiente e da saúde do planeta e a nossa própria, porque estamos poluindo o planeta com um produto tóxico que não é biocompatível.


Vídeo do canal
Minuto da Terra que aborda os microplásticos e a poluição nos oceanos.


Mas por que não reciclar? Como a maioria das roupas é feita por tecidos híbridos, pela junção do poliéster a alguma fibra natural, isso dificulta o processo de reciclagem, uma vez que, a tecnologia de reciclagem química para separar as fibras e reaproveitá-las em novas fibras não está implementada industrialmente. Outro problema é o custo, já que uma fibra de poliéster reciclada é cerca de 20% mais cara do que uma virgem, possuindo uma menor qualidade que a segunda.

Como podemos ver nessa breve exposição, são vários os custos, manifestados em graves impactos socioambientais, do modelo atual de produção têxtil da moda tradicional e de consumo, transformado em consumismo pelo sistema Fast Fashion. O que apresentamos aqui é só uma pontinha de tudo que acontece por detrás dos holofotes dos grandes e tradicionais desfiles de semanas de moda; de campanhas publicitárias que nos impelem a consumir a calça da estação, a jaqueta do momento, o vestido da coleção x da marca y; o calçado da instagrammer fulana de tal que parece tão lindo e popular. Somos programados cada vez mais cedo a associar felicidade a consumo. Sim, precisamos consumir para nosso bem estar, mas será que essa velocidade imposta trará felicidade ou angústia por não termos condições de consumir tudo aquilo que nos é apresentado como último grito da moda? Será que o descarte cada vez mais frequente e rápido vale o preço da satisfação momentânea em adquirir uma peça de roupa, um calçado ou maquiagem? 


O processo de conscientização sobre o consumo é algo realmente necessário para que nosso planeta não seja cada vez mais devastado e para que a saúde da sociedade seja preservada, mas também é necessário para nosso bem estar, para desconstruirmos essa necessidade incessante de comprar estimulada por todos os meios em todos os lugares. Como dica, para aqueles que pretendem mergulhar mais fundo no assunto, sugiro o documentário “The True Cost” – vocês podem conferir o trailer no vídeo aqui em cima – que trata exatamente do custo real da moda por um lado que dificilmente é mostrado.


Para aqueles que querem conhecer iniciativas e marcas que estão procurando mudar esse cenário e fazer a moda mais sustentável, é só acompanhar o próximo post, pois traremos algumas novidades a respeito.



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